Apenas seja. Passe a vida toda tentando ser.
Já terá feito muito.
O hexagrama nos avisa que o medo e a dúvida já nos fizeram sair do nosso caminho ou estamos prestes a fazê-lo. A maior dúvida, aquela que nos atormenta a alma, é se conseguiremos alcançar nosso objetivo seguindo o caminho da docilidade e da não-ação. Tememos que, se simplesmente deixarmos o barco correr, nunca chegaremos ao alvo desejado. Por isso, relutamos tanto em deixar que o rio siga o seu curso, sem a nossa interferência. Mas ao adotar essa atitude estamos no caminho da desintegração.
Precisamos acreditar que receberemos a ajuda necessária. Ao duvidarmos disso, nos afastamos automaticamente do Poder Superior que, então, nos deixa entregues à própria sorte. Mas se seguirmos o fluxo da corrente, o Criativo (o Tao) trabalhará a nosso favor.
A desintegração também pode se referir a época em que perdemos a percepção e abandonamos nossas responsabilidades. O abandono ocorre quando abandonamos pessoas sem demonstrar gentileza, ou por considerá-las incorrigíveis ou por não acreditarmos que elas possam se relacionar corretamente conosco.
O hexagrama também pode ser recebido quando retornamos ao caminho correto depois de tê-lo abandonado durante um período. Ele pode referir-se a outras pessoas saindo do seu caminho. Seja qual for o caso, a única coisa a fazer é seguir nosso rumo, com docilidade e simplicidade, e sem temer as adversidades. É preciso saber que, muitas vezes, o único meio que temos para crescer e corrigir atitudes erradas é enfrentando dificuldades.
É claro que, dentro do possível, a adversidade deve ser evitada. Ninguém gosta de sofrer e viver agruras. Mas, se ela ocorrer, deve ser encarada com moderação, extraíndo-se dela cada lição que tem a nos oferecer. Assim, evitamos que as lições tenham que ser repetidas mais tarde.
Receber este hexagrama significa que devemos buscar superioridade para enfrentar as situações difíceis, porque elas no momento serão inevitáveis. É um momento de colheita e preparação do solo, para mais tarde, colhermos frutos melhores. Os Trigramas oferecem a atitude correta que devemos assumir para atravessarmos este hexagrama com sabedoria.
Kên sobre K'un - A Quietude, Montanha sobre O Receptivo, Terra.
Kên - Montanha
Este Trigrama tem uma linha forte e inteira em cima e duas linhas partidas e passivas embaixo. Sua forma gráfica, com a linha forte Yang em cima, dá a idéias de algo barrando a mobilidade das linhas Yin. Daí surge a imagem da montanha. É o filho mais moço da Terra com o Céu, o oposto do seu irmão mais velho, o Trovão. Suas características cósmicas são também inversas às do Trovão: lá tudo nasce, tudo começa, e aqui tudo morre, tudo termina.
Vida é movimento. Quando algo se cristaliza e imobiliza, como acontece com uma montanha, tende a fenecer. No entanto, a nível espiritual, Kên tem características positivas, como repouso e o aquietar dos pensamentos da vida material para uma maior vivência das realidades transcendentes. Nesse sentido, Kên é também o começo de um novo nível de consciência.
Um outro aspecto interessante de Kên é o seu poder acumulador.
A montanha é uma barreira onde as nuvens interrompem seu movimento e se acumulam até causar a chuva. Isso equivale a um gerador acumulativo de energias que, ao interagir com outras forças, imobiliza-as gerando uma maximização do seu potencial. Por esse motivo, os sábios e iluminados do oriente buscavam as montanhas para o exercício da meditação.
Na vida humana, a montanha simboliza aquilo que freia, que retém para uma reflexão maior. Todas as vezes que estamos "impedidos" é a força de Kên que está agindo. Tudo o que está temporariamente imobilizado é Kên.
No nosso corpo, Kên representa as mãos pelo seu poder de agarrar, prender e reter os objetos. No ciclo da maturação, Kên é o fim e o começo, a aurora que finaliza o repouso, que inicia uma nova etapa, um novo dia. A vida aqui termina, mas essa morte é apenas uma passagem para uma nova forma de existência.
K'un - Terra
Trigrama composto por três linhas abertas ao centro, carregado de energia negativa (sem o juízo de valor que a palavra possui no ocidente). O vazio ao centro dessas linhas significa a passagem livre da energia, seu poder de receber e de doar. No plano cósmico, simboliza a capacidade de nutrir, de partejar, de dar forma às ideações do trigrama Ch'ien.
K'un realiza o que a vontade criadora do universo decide; ele é a forma.
No plano visível, é a Terra que sustenta e nutre todos os seres vivos, a mulher, a mãe. Das estações do ano, é o inverno onde a natureza repousa e se nutre. No mundo dos animais, K'un é representado pela égua, por causa da sua obediência, e pela vaca, por causa da sua docilidade.
No mundo dos homens, K'un é, primeiramente, representado pela mulher que tem a capacidade de receber o homem e gerar filhos. Representa a maternidade e a fertilidade, a mãe. Aqui, é bom lembrar que os atributos de K'un não são exclusivos da mulher, do sexo feminino, referindo-se, na realidade, aos aspectos psíquicos com qualidades Yin, que tanto podem pertencer ao homem quanto à mulher. Daí, todos os sentidos de nutrir, proteger, dar forma e abrigar passam a ser características de K'un.
A parte do nosso corpo que representa K'un é o ventre que gera filhos ou metaboliza a energia que alimenta o nosso corpo. K'un representa, no ciclo de maturação, o complemento da obra, sua materialização.
Luz e Sabedoria!